FAZENDA EXPERIMENTAL GETÚLIO VARGAS Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)



foto Ivan Ledic



Artigo enviado pelo amigo Ivan Ledic, com fotos tiradas em 2013 por SEJ Johnsson.

Ivan Luz Ledic - Médico Veterinário, Pesquisador D.Sc. EMBRAPA Gado de Leite, Diretor Técnico ABCGIL
Leonardo de Oliveira Fernandes – Zootecnista, Pesquisador D.Sc. EPAMIG/Professor da FAZU
Marcos Brandão Dias Ferreira – Médico Veterin´rio, Pesquisador M.Sc.EPAMIG

I. HISTÓRICO
           
A implantação de uma Fazenda Experimental, em Uberaba, MG, com o objetivo de estudar e selecionar as raças indianas de corte (Gir, Guzerá, Indubrasil e Nelore), teve início em 1937, por autorização do Ministério da Agricultura e da Diretoria Geral do Departamento Nacional de Produção Animal (Dnpa).

Foi designado para edificar este patrimônio público o Engenheiro Agrônomo, Dr. Jorge Crouzeilles de Abreu, permanecendo em Uberaba até 1947, depois de completar a grande façanha de criar e construir todas as estruturas ainda existentes.

Em 11 de maio de 1941, foi inaugurada com o nome de Fazenda Experimental Getúlio Vargas, subordinada à Inspetoria Regional do Dnpa, em São Carlos, SP, com a presença do Presidente da República, Sr. Getúlio Dornelles Vargas.
            
Na sua formação, desempenharam papel importante o Governo do Estado de Minas Gerais (autorizando à Prefeitura Municipal de Uberaba a doar a área pertencente ao antigo Aprendizado Borges Sampaio) e a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (atual Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – Abcz). Esta Instituição cedeu 550 ha de terras com o compromisso, por parte do Ministério da Agricultura, de adquirir determinado número de animais Indubrasil no valor das terras cedidas, o que foi efetuado em 1938, com aquisição de 28 fêmeas.
           
Em 1943 foi adquirido, pelo Ministério da Agricultura, mais 400 ha de terra, perfazendo a área da fazenda 1.000 ha, hoje dentro da malha urbana da cidade de Uberaba.

Em 1944 esta propriedade ficou sob a jurisdição do Instituto de Zootecnia do Dnpa, com sede no Rio de Janeiro.

Em 1962, a Fazenda passou a pertencer ao Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Centro-Oeste, do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (Ipeaco-Dnpea), quando foram iniciadas pesquisas na área vegetal.

Em 1973, com a extinção do Dnpea, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi designada para administrar todo este acervo.

Em 1976, através de um comodato entre Embrapa e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), esta assumiu os encargos de conduzir todos os trabalhos de Pesquisa Agropecuária, sendo instalada nesta propriedade uma administração regional.


foto SEJ Johnsson (2113)

II. FORMAÇÃO DO REBANHO GIR LEITEIRO


Até 1948, o rebanho desta Fazenda era constituído por animais puros das raças Gir, Nelore, Guzerá e Indubrasil com a finalidade de seleção para corte. Reconhecendo a necessidade de aproveitar o gado indiano para seleção leiteira, foram elaboradas as bases de um plano de trabalho visando constituição de um rebanho Zebu Leiteiro a partir do gado existente no País.

De acordo com o estabelecido, o rebanho de fundação deveria ser de vacas Zebu puras, de preferência da raça Gir, por pertencer esta ao grupo étnico das raças leiteiras na Índia. Neste ano de 1948 foram adquiridas em fazendas particulares 30 matrizes representativas das boas vacas leiteiras da região. Dentro do tipo racial do Gir, o critério de escolha foi baseado na caracterização leiteira e na capacidade de produção.

Algumas vacas do rebanho Gir de corte da Fazenda participaram deste novo rebanho leiteiro, a maioria filhas do touro Real (filho de Tietê com Ubarana III) e de Fascinante (filho de Pavão com Paulicéia), transferidos do Campo Experimental João Pessoa, em Umbuzeiro, PB, que já praticava seleção para leite.

O rebanho foi servido a princípio por touros procedentes de Umbuzeiro, pois era a única propriedade que já dispunha de controle leiteiro conhecido para iniciar este trabalho. Constam nos livros de registro o touro Cupido (filho de Tietê com Ubarana III), o touro IPÊ (filho de Fascinante com Nhata) e Hazan (filho de Negus e Guayra – Negus era filho de Tietê e Bonina e Guayra era filha de Maxixe II e Paulicéia). Hazan foi o primeiro touro Zebu provado para leite no mundo (em 1959 pelo método Goodale e Rice), com índice de 3.356 kg, só ultrapassado por reprodutores Holandês.

Em fins de 1952, foi adquirido um segundo grupo de 96 vacas, selecionadas após exame de mais de 1.000 fêmeas em fazendas particulares.

Em 1962, foi adquirido um novo lote de 15 fêmeas, nas mesmas condições anteriormente descritas.

Destacamos que os técnicos José Dias Costa Aroeira, Afonso Nogueira Simões Correa e Hugo Prata foram os precursores de todo este trabalho desenvolvido.

A partir de 1978, foram utilizados touros de outros criadores de Gir Leiteiro, via aquisição de sêmen em Centrais de Inseminação Artificial.

Em 1983 foi introduzida a ordenha mecânica com balde ao pé. Já em 1996 o regime de ordenha é mecânico, no sistema canalizado, do tipo Tanden duplo, (o primeiro no gênero com gado Gir).

Em 1985, o rebanho da Fazenda Experimental Getúlio Vargas começou a participar do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro disponibilizando ventres de novilhas Gir Leiteiro para testar touros pelo Teste de Progênie. É o rebanho que mais contribuiu com vacas Gir puras para este fim, com mais de 350 produtos fêmeas Gir Leiteiro nascidas de touros com PTA já calculadas e mais umas 400 aguardando o parto e encerramento da lactação.

A Fazenda Experimental Getúlio Vargas já testou três touros no Teste de Progênie, tendo mais cinco touros em avaliação com resultados a serem liberados a partir do próximo ano (Vício, Xiato, Breque, Cafu, Cálculo e Dinâmico).

De outro lado, a Fazenda Experimental desenvolveu a única Prova Nacional de Ganho de Peso do Gir Leiteiro no “Núcleo João Barisson Villares”, trabalho conjunto do CTTP/EPAMIG, Abcgil, Embrapa Gado de Leite e Abcz. Já foram efetuadas duas provas, sendo obtido o maior ganho de peso da raça Gir a nível nacional, alcançando 1,232 kg por dia.

Cabe destacar que em avaliação de sete mil vacas Gir do Brasil efetuado em 1989 (Embrapa Gado de Leite), a vaca Quinina da Epamig foi a terceira melhor, com Valor Genético de 580 kg.

Outro detalhe, o touro Zito, descendente de Cupido, foi adquirido por preço recorde por Francisco Barreto, num dos Leilões da Fazenda Experimental Getúlio Vargas. Em sua propriedade, em Mococa, SP, Zito teve a filha FB Caldeira, que produziu 7.791 kg de leite na lactação, no ano de 1971, recorde que só foi superado 13 anos depois.

Na última avaliação efetuada pela Embrapa Gado de Leite, em 1995, de 1.001 vacas Gir Leiteiro vivas, das 200 melhores, 16% eram da Fazenda Experimental Getúlio Vargas, ficando classificada em segundo lugar de um total de 11 fazendas.

Atualmente existem 38 vacas com produção acima de 4.000 kg e o recorde é da vaca Epidemia, com 6.318 kg.

Uma característica dos animais é a resistência ao carrapato, sendo que há dez anos nenhum animal recebe banho de produtos químicos para combate a esses ácaros, depois do resultado obtido em pesquisa no rebanho efetuada pelo saudoso Dr. Uriel Fanco Rocha. Nunca houve problemas de otite e a mortalidade de bezerros é mínima.

O controle da mosca-do-chifre (‘Haematobia irritans irritans’) é efetuado com o besouro africano (‘Digitothonphagus gazella’) , introduzido na região em 1991. A Fazenda Experimental Getúlio Vargas mantém criatório desses coleópteros, para distribuição de casais aos produtores interessados em incorporar esse sistema de controle biológico nas suas propriedades.



José Dias Costa Aroeira, Afonso Nogueira Simões Correa e Hugo Prata - percursores, e outros pesquisadores e responsáveis pelo Sistema de Produção do Gir Leiteiro da EPAMIG. Na foto Ivan Ledic.

III. OUTRAS INFORMAÇÕES ADICIONAIS ...

Salientamos que em 1950 foi criada a Estação de Fisiopatologia da Reprodução e Inseminação Artificial – Esfria, a primeira do Brasil, com a finalidade de executar trabalhos de pesquisa em reprodução animal e utilização de sêmen resfriado dos reprodutores da Fazenda para inseminação das matrizes.

Os Leilões de Gir Leiteiro dessa Fazenda foram iniciados em 1957, que inspirou o início desta modalidade de comercialização, tão utilizada hoje para venda de animais. Esse ano completa 50 anos ininterruptos, ofertando animais de qualidade aos produtores de leite.



Ancada da EPAMIG - doadora vendida no 56o Leilão da EPAMIG em 2013 para criadores do Rio Grande do Sul.


Em1961 foi iniciado, pela primeira vez, o Serviço de Controle Leiteiro em Fazendas Particulares, trabalho repassado em 1970 para a Abcz, através do funcionário do Ministério da Agricultura que aqui exercia suas funções, Vanderley Alves de Andrade, o qual até os dias de hoje executa essa tarefa, imprescindível para a seleção do Gir Leiteiro.

Na década de 60 aBrachiaria decumbens’ foi introduzida no Brasil pela Fazenda Experimental Getúlio Vargas.

Cumprindo a sua principal função de gerar conhecimento através de pesquisa, diversos professores e cientistas sempre estiveram envolvidos com a Fazenda Experimental Getúlio Vargas. Já em outubro de 1941 recebe a visita do ilustre Dr. Jay L. Lush, professor do Iowa Experiment Station, precursor de todas as teorias do melhoramento genético atual; em 1959, foi elaborada a primeira Tese envolvendo estudos de genética e melhoramento de gado Zebu, pelo Dr. José Rodolpho Torres. Para citar alguns outros: Alberto Alves Santiago, João Barrison Villares e Raul Briquet Junior.

Trabalhos de pesquisa com o Gir Leiteiro são desenvolvidos nas áreas de reprodução, nutrição, pastagem, economia, manejo, sanidade e melhoramento, juntamente com a Universidade de Viçosa, Jaboticabal, Ufmg, Esalq, Fazu e Embrapa, gerando informações técnico científicos preciosas e imprescindíveis para a pecuária leiteira tropical.

Estagiários (estudantes e recém formados das ciências agrárias) de todo o Brasil e alguns da América Latina são recebidos para que façam seu aprimoramento técnico científico. Criadores de todo o território nacional e delegações estrangeiras sempre são recebidas nessa propriedade governamental.



Leonardo Fernandes e João Osvaldo, responsáveis pelo núcleo Gir da EPAMIG. foto SEJ Johnsson (2013)


A equipe envolvida com o rebanho Gir Leiteiro da EPAMIG, além dos funcionários de campo e do setor administrativo, é formada pelos pesquisadores Leonardo de Oliveira Fernandes, Marcos Brandão Dias Ferreira, Reginério Soares de Faria, Edilane Aparecida da Silva e Sandro Henrique Antunes Ribeiro, contando com envolvimento dos técnicos agrícolas Francisco de Fátima Silva e Flávio Teles Xavier além do laboratorista Amauri Roberto Pinheiro, esses da EPAMIG, além do pesquisador Ivan Luz Ledic da EMBRAPA Gado de Leite e colaboração do zootecnista André Rabelo Fernandes da ABCGIL.



ordenha mecânica EPAMIG - foto SEJ Johnsson (2013)


IV. PRODUÇÃO DE LEITE - ATIVIDADE ECONOMICAMENTE VIÁVEL COM O GIR LEITEIRO DA FAZENDA EXPERIMENTAL GETÚLIO VARGAS

A formação do rebanho Gir Leiteiro da Fazenda Experimental Getúlio Vargas foi iniciada em 1948 (58 anos de melhoramento),
sendo um dos rebanhos mais antigos do Brasil, buscando preservar a aptidão leiteira em condições de pastagem sem prejudicar a rusticidade da raça. Além das características de produção leiteira e rusticidade o trabalho prioriza a seleção para as características de fertilidade e temperamento.

Neste rebanho produções entre 3.600 e 5.800 kg/lactação são comuns (o recorde é de 6.318 kg). As produções mencionadas são excepcionais, principalmente porque são obtidas em condições de pastagem com baixa utilização de concentrado, viabilizando a pecuária leiteira para as regiões tropicais.

Com o objetivo de promover pesquisas e difundir tecnologias a EPAMIG através da Fazenda Experimental Getúlio Vargas, a partir de 1997, vem desenvolvendo também trabalho de produção de leite com bovinos mestiços (1/2 HZ), em condições de pastagem buscando a produção de leite a baixos custos.

Neste sistema, que utiliza uma área de 233 ha, sendo 180 ha para a produção de pastagem, 46 ha destinados para a produção de volumoso e 7 ha destinados para a estrutura física do sistema, são manejadas 640 cabeças, aproximadamente 390 UA (1 UA = 1 animal de 450 kg), o que possibilita uma taxa de lotação de 1,9 UA/ha (3,0 cabeças/ha). 

1. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

1.1. Manejo de pastagem e nutrição

            Todas as categorias animais são manejadas em sistema de pastejo rotacionado com adubações de manutenção periódicas para manter a taxa de lotação planejada. O manejo realizado para as diferentes categorias animais pode ser observado abaixo:

A. Bezerros em aleitamento - Nesta fase os bezerros têm acesso a um piquete de Tifton 85 onde é fornecido, à vontade, concentrado peletizado que estimula o desenvolvimento ruminal e diminui problemas respiratórios, comuns quando se trabalha com concentrado farelado.

O aleitamento dos bezerros é realizado da forma natural, duas vezes ao dia, durante as ordenhas, porque a vaca Gir necessita da presença do bezerro para estimular a descida do leite.

Normalmente bezerros necessitam consumir leite na quantidade de 10 % do seu peso vivo. A quantidade de leite oferecida deixando-se uma teta disponível durante a ordenha mecânica, torna esse método empírico, em função de não proporcionar padronização no desenvolvimento de bezerros.

Na rotina, após a retirada das teteiras, durante 5 minutos o bezerro permanece mamando o leite residual (fator que reduz o índice de mamite), não sendo, com essa prática, necessário o pós-dip (utilização de solução desinfetante nas tetas).


bezerros na EPAMIH - foto SEJ Johnsson (2013)

Bezerros durante a ordenha

A alimentação com volumoso e concentrado é iniciada na segunda semana de vida (aos 15 dias) com o objetivo de iniciar o consumo de alimentos sólidos o mais rápido possível. O volumoso utilizado é o feno (12 % de PB e 62 % de NDT), fornecido até os 120 dias de idade.

Os bezerros são desaleitados aos 90 dias, fase que têm completado o desenvolvimento ruminal.

B. Cria de fêmeas e machospastagem de capim Panicum maximun cv. Tanzânia, manejada em condições de pastejo rotacionado, observando 33 dias de período de descanso e 5 dias de período de ocupação.

Após os 120 dias de idade, os bezerros são manejados em piquetes, recebendo concentrado (1,5 kg) até os 180 dias de idade, quando estão no bezerreiro à espera para apojar sua mãe durante a ordenha.


Bezerros na fase de cria no piquete

Após esta fase, depois dos 180 dias de idade até o encerramento de lactação de sua mãe (em torno de 10 meses), os animais são manejados durante o período das chuvas somente em condições de pastejo rotacionado, utilizando oferta de 4% durante o período das chuvas. No período de estiagem a oferta de forragem é de 6% e é fornecido também cana com uréia e concentrado para proporcionar o ganho de peso adequado.

B. Recria – B.1. novilhas até o parto - a pastagem é de capim Brachiaria brizanta, cultivar Marandu, manejada em condições de pastejo rotacionado, observando 32 dias de período de descanso e 4 dias de período de ocupação; B.2. machos até venda - pastagem de capim Panicum maximun cv. Tanzânia, manejada em condições de pastejo rotacionado, observando 33 dias de período de descanso e 3 dias de período de ocupação.

No período das chuvas, os animais são mantidos apenas sob pastejo, utilizando manejo que permita alta qualidade de forragem e ganho de peso próximo a 600 g/bovino/dia.


Novilha EPAMIG - filha de Vaidoso da Sil em vaca EPAMIG (leilão 2013)  - foto SEJ Johnsson


Novilhas em recria

Durante o período de estiagem, utiliza-se a estratégia do pastejo diferido, que consiste em vedação estratégica de uma área de pastagem no final de janeiro, dimensionada de acordo com o número de animais e o tempo de pastejo. É fornecido sal proteínado para potencializar a utilização da forragem, que permite manter em torno de 2-3 UA/ha, com ganho de peso de 250 g/bovino/dia.

Nesse manejo, a oferta de forragem é de 7 %, pois a forragem é de pior qualidade quando comparada com o manejo de pastejo rotacionado, fato que se deve ao avançado estádio de crescimento.

As fêmeas 30 dias antes do parto são manejadas no lote de vacas em lactação e suplementadas com 2 kg de concentrado e, no período de estiagem, recebem silagem de milho, indo ao estábulo, sendo peadas, visando acostuma-las à ordenha.

C. Vacas secas gestantes - pastagem de capim Brachiaria decumbens, manejada em condições de pastejo rotacionado, observando 32 dias de período de descanso e 8 dias de período de ocupação.

As vacas secas (120 dias entre a secagem e o parto) são manejadas em condições de pastagem durante o período das chuvas, recebendo mistura mineral à vontade, não sendo fornecida suplementação concentrada, pois a recuperação das reservas corporais é conseguida somente com a utilização da pastagem que permite ganhos de peso de 0,7 kg/dia.
  
Vacas secas gestantes

Na época da estiagem as vacas secas são suplementadas com concentrado (2,0 kg/vaca/dia), 40 dias antes do parto.

D. Vacas em lactação - pastagem de capim Pennisetum purpureum (capim elefante), manejada em condições de pastejo rotacionado, observando 45 dias de período de descanso e 1 dia de período de ocupação.

Durante o período das chuvas, além do sal mineral, as vacas só recebem suplementação concentrada se tiverem com produção de leite entre 10-18 kg/dia, sendo fornecido 1 kg de concentrado para cada 6 kg de leite produzido; as vacas que produzem acima de 18 kg/dia recebem suplementação de 1 kg de concentrado para cada 4 kg de leite produzido.

Durante o período da estiagem as vacas em lactação são suplementadas com volumoso (silagem de milho à vontade), além de mistura mineral à vontade. Normalmente é observado consumo de silagem de 28 kg de matéria verde/vaca/dia (9,9 kg de matéria seca/vaca/dia). Nessa época o concentrado é utilizado na proporção de 1 kg de concentrado para cada 3,8 kg de leite produzido.


Vacas em lactação

Imediatamente após o parto as vacas recebem quantidade de concentrado compatível com o lote de maior produção até os 40 dias de lactação. Este manejo visa diminuir a perda de peso imediatamente após o parto, proporcionando período de serviço mais curto, permitindo que a vaca expresse seu potencial produtivo, pois sabe-se que imediatamente após o parto o consumo é baixo e a utilização de dieta de melhor qualidade possibilita melhores resultados.

Independentemente da época do ano o lote de primíparas recebe 1kg de concentrado adicional à quantidade comentada para o lote de vacas, pois suas exigências nutricionais são maiores. Esta prática tem o objetivo de identificar o potencial produtivo das novilhas de primeira cria, manter o seu desenvolvimento e promover o rápido retorno ao cio pós-parto.


Obs.: O manejo descrito é utilizado durante o período das chuvas e durante a época de estiagem, em todos os sistemas, o período de descanso das pastagens é aumentado (45 a 55 dias), para proporcionar uma melhor recuperação da forrageira. 


lote de vacas EPAMIG - foto SEJ Johnsson (2013)


2. MANEJO REPRODUTIVO E SANITÁRIO

O manejo reprodutivo do rebanho da Fazenda Experimental Getúlio Vargas consta de início da vida reprodutiva da novilha ao atingir 330 kg de peso vivo, quando são colocadas em presença de rufião para observação da manifestação de cio duas vezes ao dia. As novilhas estão entrando em reprodução aproximadamente entre 24 a 26 meses de idade e atualmente a idade ao primeiro parto do rebanho esta na faixa dos 37,5 meses.

As vacas primíparas e multíparas são todas examinadas ginecologicamente aos 30 dias pós-parto e colocadas em reprodução aos 45 dias pós-parto, estando em presença de rufiões desde a primeira semana do pós-parto. O programa de inseminação artificial da fazenda é de duas inseminações e no terceiro cio a fêmea é reexaminada e direcionada para a monta natural. Todo o sêmen utilizado é analisado pré-estação e os touros utilizados passam por exames andrológicos periódicos.

O intervalo entre partos do rebanho é de aproximadamente 13,5 meses, sendo o intervalo entre o primeiro e segundo parto 15 dias maior. Este intervalo em média consiste de aproximadamente 9 a 10 meses de lactação e 4 a 5 meses de período seco, o suficiente para a matriz vir a parir com ótima condição corporal, o que permite o breve retorno a atividade ovariana pós-parto e à manutenção de intervalos regulares por vida útil.


Identificação do cio com rufião

O manejo sanitário do rebanho é realizado através de aplicação de calendário sanitário rigoroso com vacinações de brucelose (fêmeas aos 4 meses), carbúnculo e gangrena gasosa (aos 4, 12 e 24 meses), leptospirose (trimestral), raiva (anual) e aftosa (datas obrigatórias) e exames semestrais de brucelose, leptospirose e tuberculose.

O controle de endo parasitas é realizado mensalmente nos 6 primeiros meses de vida dos bezerros, a cada 60 dias até os 12 meses e após a desmama, durante a recria, até o primeiro parto são realizadas aplicações estratégicas nos meses de maio, julho e setembro. Nas novilhas gestantes é realizado vermifugação ao entrarem na maternidade e nas vacas adultas somente em caso de perda de escore corporal ideal.

O controle de ecto parasitas como a mosca dos chifres é feito por controle biológico a mais de uma década com resultados de excelente custo beneficio, não utilizando controle químico. Quanto ao carrapato somente é realizado controle químico nos bezerros até um ano de idade. Este manejo somente é possível graças à comprovada resistência da raça Gir a este parasita. Para controle de berne utiliza-se controle eventual (uma ou duas aplicações/ano) em função do nível de incidência verificado.

O controle de mamite é realizado com exame diário em caneca telada, avaliações mensais de CMT e controle por análise laboratorial bimensal. Também se realiza controle rigoroso de secagem da vaca com aplicação de medicações apropriadas e indicadas por levantamento bacteriológico e de antibiograma.


Exame para mamite com caneca telada

Outro manejo importante que possibilita baixos índices de contaminação do rebanho é a limpeza, higienização e desinfecção das instalações e da ordenhadeira mecânica, além de treinamento da mão-de-obra envolvida no processo (higiene pessoal). Os casos clínicos de mamite são tratados utilizando antibióticos específicos para os microorganismos identificados.


rebanho EPAMIG - foto SEJ Johnsson (2013)

3. SELEÇÃO E MELHORAMENTO

Um importante objetivo do programa de melhoramento do rebanho leiteiro é o número de vacas que devem ser descartadas e o número de novilhas que as substituirão em cada ano. De maneira geral, essa taxa nos rebanhos leiteiros estabilizados está em torno de 20%.

O valor genético (ou de produção) deveria ser a única razão pelo descarte de vacas e apenas as de mérito mais baixo é que deveriam sair do rebanho. Entretanto, na prática, as vacas são descartadas por inúmeras razões que não o critério pré-determinado pelo objetivo da seleção, como por falhas reprodutivas, perda de teta, infecções, etc, chegando estas a representar até 60% do total de fêmeas refugadas.

Visando aumentar a taxa de ganho genético do rebanho é adotado 30% de reposição de fêmeas. Assim o número de vacas a serem excluídas anualmente, em razão apenas do seu baixo mérito e substituídas por novilhas, foi aumentado, pois, impreterivelmente, se continua a manter o descarte por razões não genéticas.

Com isso o intervalo de gerações fica reduzido, aumentando o ganho genético anual.

Por outro lado, a comercialização de animais, em rebanhos leiteiros, pode ser o fator de lucro da atividade, sendo assim, essa taxa de reforma adotada no rebanho aumenta o número de animais adultos que são vendidos por valores mais elevados em relação às novilhas excedentes.

Para obtenção do número de animais por categoria, consideraremos o rebanho de fêmeas aptas à reprodução, como sendo de 70% de vacas multíparas e 30% como de primeira parição (68% das fêmeas disponíveis de 1-2 anos). A taxa de natalidade prevista de 85% incorre somente sobre as vacas acima de uma parição, com expectativa de 100% sobre as novilhas incorporadas.

O rebanho de vacas é constituído de 30% animais de primeira lactação, 20% de segunda, 16% de terceira, 14% de quarta, 3% de quinta e 7% de fêmeas acima da quinta lactação. 


Vacas aguardando a ordenha

Essa técnica de seleção sequencial de fêmeas (retenção de 68% das fêmeas que encerraram a primeira lactação, 78% das de segunda, 85% das de terceira, 20 % das de quarta e somente as excepcionais a partir da quinta lactação), comprovadamente incrementa o ganho genético, chegando a ser de 1,2% ao ano, porque aumenta o diferencial de seleção das fêmeas e reduz o intervalo de gerações.

As fêmeas são inseminadas com os cinco melhores touros ranqueados no Teste de Progênie da Abcgil/Embrapa. Procura-se também, para não se perder a identidade do rebanho, manter as linhagens originais, promovendo acasalamentos dirigidos com os touros selecionados no plantel e que são indicados para avaliação no Teste de Progênie.


Dinâmico da EPAMIG -> (Xiato da EPAMIG X Paba da EPAMIG) - Touro 10o colocado no 21 grupo do PNMGL com PTA 431,6 / 24o no Sumário Geral da ABCGIL.

Por se tratar de um rebanho experimental, cerca de 25 novilhas são inseminadas com touros em avaliação pelo Teste de Progênie, visando contribuir como ventres para gerar informações para esse Programa.


foto Ivan Ledic - ordenha mecânica EPAMIG

4. RESULTADOS PRODUTIVOS

            Dentro da estrutura de manejo discutida têm sido avaliados os índices zootécnicos de bovinos Gir.
O rebanho está estabilizado em 640 cabeças, sendo 200 matrizes com os seguintes índices:

1 - Primíparas· Idade ao primeiro parto de 37,5 meses,
· Peso vivo ao parto de 392 kg,
· 2.818 kg de leite em 260 dias de lactação,
· 10,84 kg de leite/dia e,
· Intervalo de partos de 13,6 meses.

2 - Multíparas· Peso vivo ao parto de 450 kg,
· 3.400 kg de leite em 280 dias de lactação,
· 12,14 kg de leite/dia e,
· Intervalo de partos de 13,5 meses.

O manejo durante a fase de recria está sendo alterado, objetivando diminuir a idade ao 1º parto do rebanho para 34 meses, devendo utilizar durante o período da seca suplementação com cana + uréia e concentrado.

Em função dos índices observados de duração de lactação (DL) e intervalo entre partos (IEP) têm sido mantidas 67% de vacas em lactação para o rebanho, fator que pode ser melhorado através da redução do IEP e aumento da DL.

Os índices de mortalidade são de 4% para bovinos até um ano e 1,8% para bovinos acima de um ano. A taxa de fertilidade é de 76%, podendo ser considerada alta em se tratando da raça Gir explorada intensivamente para a produção leiteira a pasto.

As vacas adultas do rebanho apresentam peso vivo médio de 440 kg.

 Vacas recebendo suplementação no período de estiagem

As vacas Gir apresentam excelente qualidade do leite e nos trabalhos realizados tem sido observado leite com a seguinte composição: 13,9% de sólidos totais, 4,6% de gordura; 4,7% de lactose e 3,6% de proteína.


Considerando a área de 75 ha (60 ha de pastagem e 15 ha para produção de volumoso) destinada às vacas em lactação e vacas secas gestantes, a produção de leite foi de 5.467 kg/ha/ano.


5. RESULTADOS ECONÔMICOS

Para confecção do custo de produção de leite foram separados durante o ano de 2005 os custos diretos do rebanho leiteiro (vacas em lactação e vacas secas) e do rebanho de cria e recria. Mensalmente estes custos são levantados e separados de acordo com as despesas de cada categoria animal. Desta maneira o rebanho diretamente envolvido com a produção tem que remunerar seus próprios custos, ocorrendo o mesmo com o rebanho de cria e recria.

5.1. Rebanho leiteiro

O custo operacional para produção de leite (Tabela 1) foi de R$0,39/litro comercializado durante o ano de 2005. Este valor pode se considerando interessante, pois representa a média do período das chuvas e estiagem. O preço médio pago pelo litro praticado neste ano foi de R$0,49/litro, fato que proporcionou renda líquida de R$0,10/litro.
               
Tabela 1 – Composição do custo operacional do leite do rebanho Gir da Fazenda Experimental  Getúlio Vargas durante o ano de 2005.
Discriminação dos Custos
Custo Total (R$)
R$/l
Participação (%)
Vacinas
1.000,00
0,00
0,6
Sêmen
3.300,00
0,01
2,1
Produtos Veterinários
4.200,00
0,01
2,6
Manutenção
5.250,00
0,01
3,3
Veículos/Máquinas
6.066,39
0,01
3,8
Serviços
8.000,00
0,02
5,0
Ordenha
8.484,00
0,02
5,3
Impostos/taxas
11.501,72
0,03
7,2
Produção de Silagem
13.431,60
0,03
8,4
Adubação de pastagem
21.573,6
0,05
13,5
Concentrado
32.000,00
0,08
20,0
Mão de obra
45.302,50
0,11
28,3
TOTAL
160.109,81
0,39
100,0
               
Estratificando o custo para os períodos do ano, verifica-se durante o período das chuvas o custo de R$0,35/litro, sendo de R$0,42/litro durante o período da estiagem. O menor custo observado durante o período das chuvas pode ser justificado pela menor utilização de alimentos concentrados e a utilização como única fonte de volumoso a forragem produzida pela pastagem, além dos maiores custos com mão de obra (tratadores) durante o período de estiagem.

Os itens de maiores custos foram os relativos à mão de obra (28,3%) e com alimentação das vacas com concentrado, adubação de pastagem e produção de silagem (41,9%). Os custos de alimentação descritos, apesar de apresentarem alta participação podem ser considerados baixos quando se compara com os custos observados em sistema de confinamento, onde são verificados custos com alimentação próximos de 60%.

Pode ser verificado também que a renda bruta com a comercialização de leite foi de R$200.900,00 (Tabela 2), sendo o custo total de R$160.109,81 (Tabela 1), possibilitando lucro de R$40.790,19 e taxa de retorno de 25,5% sobre o capital aplicado.

Considerando que a área total disponível para a categoria de vacas em lactação e secas gestantes é de 75 ha (60 ha de pastagem e 15 ha para produção de volumoso), obtém-se renda líquida de R$543,87/ha/ano somente com a produção de leite. Esta renda por ha pode ser considerada adequada frente à verificada com outras atividades como soja, milho, cana e outras, tornando a atividade leiteira uma atividade lucrativa.

Tabela 2 - Composição da receita referente à venda de leite e animais durante o ano de 2005.
Itens da receita
Quantidade
Preço Unitário (R$)
TOTAL
(R$)
Participação (%)
Leite
410.000 litros
0,49
200.900,00
50,4
Bovinos (Corte)
34 cabeças
564,85
19.205,00
4,8
Fêmeas (Reprodução)
48 cabeças
1.500,00
72.000,00
18,1
Machos (Reprodução)
56 cabeças
1.900,00
106.400,00
26,7
TOTAL
----
----
398.505,00
100,0

5.2. Rebanho de cria e recria
                       
Quando se analisa o custo do rebanho de cria/recria, percebe-se que esta categoria é bastante viável, pois os machos e fêmeas foram comercializados para reprodução.

O custo de produção desta categoria foi de R$124.627,97 e a renda bruta de R$197.605,00 (Tabela 2), fato que possibilitou receita líquida de R$72.977,03.

A taxa de retorno sobre o desembolso de capital aplicado foi de 58,5%, gerando renda líquida de R$483,29/ha/ano com essa categoria de cria e recria de animais, considerando a área de 120 ha de pastagem e 31 ha utilizados para produção de volumoso.



foto SEJ Johnsson (2013)

5.3. Rebanho total

Analisando o resultado considerando todo o rebanho durante o ano de 2005 verifica-se um custo operacional total de R$284.737,78, com receita bruta de R$398.505,00 (Tabela 2), gerando lucro de R$113.767,22. A taxa de retorno do capital aplicado foi de 39,9%, gerando renda líquida total de R$488,27/ha/ano (nos 233 ha totais do sistema). Pode ser verificado que sistemas de produção de leite associados à cria e recria podem ser eficientes e competitivos com outras atividades da agropecuária.

Além disso, diferente de outros empreendimentos agrícolas, a atividade leiteira remunera diariamente o produtor, sendo verificado renda diária de R$1,33/ha.

Observa-se também (Tabela 2) que da receita total, 50,4% vem da comercialização de leite e 49,6% é resultado da comercialização de machos e fêmeas (corte/reprodução), demonstrando a importância da venda de bovinos para compor a renda da propriedade leiteira. Este valor pode ser considerado alto, frente aos sistemas de produção existentes, mas deve-se considerar que a receita com comercialização de animais Gir Leiteiro é basicamente venda de material genético superior com valor agregado, principalmente os machos, os quais geralmente não são comercializados em outras raças leiteiras.

Salientamos não ter sido computado receita advinda da comercialização de sêmen dos touros e de embriões, que também seria um outro fator diferencial para aumentar os lucros dos rebanhos Gir Leiteiro, cuja demanda no mercado tem superado todas as expectativas.

Um comentário:

  1. Fantástico otimo artigo virei leitor !

    Há um tempo atrás vi na internet uma que atua neste mercado também

    Gir Leiteiro
    www.estanciatamburil.com.br

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